Hoje quero lembrar outra história bíblica, que também possui a função de fazer rir, além de mostrar o lado divertido do nosso Pai Celeste. É a história de Balaão, que está no Livro de Números.
A época é por volta do ano 1.500 Antes de Cristo. O povo de Israel, que havia saído do Egito e marchava rumo a Canaã, a Terra Prometida, já tinha enfrentado inúmeras batalhas na região, sempre com estrondosa vitória. E agora está acampado bem próximo ao território de uma nação chamada Moabe. O rei de Moabe, chamado Balaque, já sabendo da fama do numeroso exército de Israel nas guerras pela região, está morrendo de medo de que os israelitas invadam seu país. Então esse rei manda buscar um cidadão chamado Balaão, que tem o “dom” de amaldiçoar e abençoar. Um profeta.
A intenção do rei Balaque é que Balaão amaldiçoe o exército de Israel, a fim de que se retire do local.
Mas Balaão acredita em Deus. No mesmo Deus do povo de Israel. Tanto que é tido por muitos como um profeta de Deus, embora não reconhecido assim entre os hebreus. Assim que recebe o convite, Balaão vai orar pedindo uma revelação divina para saber se deve mesmo amaldiçoar o povo de Deus. A resposta de Deus, claro, é negativa.
Os mensageiros relatam a Balaque a recusa de Balaão. O rei então manda pessoas importantes do governo falarem com Balaão e oferecer-lhe propinas e toda sorte de honrarias para que atenda ao pedido de amaldiçoar o acampamento israelita.
Nessa ocasião, Balaão deveria apenas ter dito não, novamente, pois Deus já o dissera que não deveria fazer aquilo. Mas Balaão vai de novo falar com Deus, porque dessa vez a “proposta” é boa demais.
Diante da insistência do Profeta, veja só o que Deus diz: “levanta-te, vai com eles” (v. 27). Só que, depois desse “vai com eles”, presumo estar embutida e oculta a expressão “pra ver o que vai te acontecer”, o que Balaão não notou.
Certamente Deus pensou: “vou aprontar uma para esse camarada. Vou punir a desobediência com uma brincadeira, para que nunca mais esqueça”. Assim, cria uma situação que faz o Profeta sentir medo e vergonha.
No caminho, a jumenta de Balaão empaca. Ele então a espanca até que o animal começa a falar, pedindo misericórdia. Mais pitoresco é que Balaão também fala com a jumenta, travando os dois um diálogo! Para nós, a história é fantástica e divertida. Mas imagine-se o terror que passa esse homem. Li que esse diálogo entre Balaão e a mula ocorre porque o Profeta fica transtornado, fora de si de tanto medo. É de acreditar, pois uma pessoa normal pode até falar com animal, de brincadeira, mas jamais trava diálogo com um bicho. Que vergonha não passa esse homem quando o fato se torna público!
Nosso Pai Celeste é bem-humorado até para repreender seus filhos. Aprendamos com Ele: sejamos sempre bem-humorados com nossos filhos.
Apontei apenas alguns episódios, dentre tantos contidos nas histórias bíblicas, mas na verdade nossa simples existência proporciona infinitas oportunidades de experiências lúdicas que nos dão alegria, fazendo-nos felizes mesmo em meio a todos os problemas do quotidiano.
Basta olharmos ao redor para constatar que a natureza por si só parece uma fantástica e infinita coletânea de brincadeiras vivas. Um incontável número de animais que mudam de cor quando querem, que fingem ser de outra espécie ou até mesmo fazem-se passar por uma pedra ou um pedaço de madeira; uma borboleta pintada com aparência de um tigre ou de uma cobra; um peixe que engole seus filhotes na hora do aperto; a inexplicável energia das crianças e dos filhotes de animais em suas brincadeiras; a estonteante beleza das flores, dos corais e dos peixes, com suas variadas formas, cores e maneiras singulares de existência. E por aí afora. Infinitamente.
Não tenho dúvida: o Criador se diverte com tudo isso. Todos os dias. E deseja que sigamos seu exemplo, que encontremos um jeito alegre de existir e conviver. Como irmãos de todos os seres da Criação. Como filhos. Como pais.
Por Dr. Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)