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Cinco de junho. Por Dr. Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)
Por Rádio JB
Publicado em 05/06/2025 13:50 • Atualizado 05/06/2025 13:51
Opinião
Imagem: Meta IA / Rádio JB

Pensando em escrever algo sobre o Dia Mundial do Meio Ambiente, eis que me deparo com um artigo do ilustre colega Daniel Martini, Promotor de Justiça em Porto Alegre, cujo teor abrange tudo o que eu gostaria de ter escrito hoje.

         Entendi oportuno, então, transcrever aqui parte desse irretocável texto, intitulado “Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho: momento de liquidez e incertezas”:

         “O Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, nos leva a refletir sobre a nossa relação com a natureza, o que dela nos distingue, o que a ela nos liga. Nesse exercício de resgate, provocado por François Ost, conclui-se não haver boas notícias, pois o ser humano desconectou-se do seu primitivo, da sua essência. A ideia de ser o Senhor e controlador da natureza, uma vez que conseguimos ultrapassar a fase “caçadores-coletores” evoluindo para agricultores, encheu-nos de poder.

         Nesse rumo, entre trajeto percorrido e o abismo estamos nós, seres humanos, senhores do nosso destino, mas incapazes de compreender que a manutenção equilibrada da saúde da nossa “casa” é o elo que liga a nossa permanência consciente no Planeta Terra. Do outro lado desta compreensão está a nossa própria extinção. A ganância, a hipocrisia, a ignorância e a nossa índole progressista, levou-nos ao florescer da civilização, mas, por outro lado, afastou-nos da noção de equilíbrio entre o tudo e o nada.

Até parece estarmos sedados, de olhos tapados, com os sentidos obstruídos, rumo à aniquilação. Nossa espécie é extremamente dependente do status quo ambiental, somos criaturas frágeis. A compreensão que precisamos absorver é simples: nosso corpo necessita, para sobreviver, das condições físico-químicas e biológicas produzidas pelos processos naturais essenciais, os quais estamos desmantelando e em ritmo acelerado, à custa da nossa própria existência.

A época é de evidentes retrocessos: ambiental, intelectual, afetivo e emocional. O cenário é de total desconexão. Não há mais lugar seguro. O Velho Mundo colapsado e o Novo imbricado em corrupção originada pelos maus exemplos gananciosos que vêm desenhando amargamente a nossa história como humanidade.

O ambiente abandonado à deriva por conta de mentes institucionalizadas, encasteladas em propósitos vencidos, falidos, ultrapassados. A tristeza, ao olhar para trás em busca das linhas escritas pela história, adensa-se quando percebemos que as vitórias conquistadas pelos desbravadores ambientais, desde 1972 em Estocolmo, já não ecoam mais como bravas vitórias e sim como pedras nos sapatos daqueles que não compreendem a lógica da vida, que sequer conseguem entender que são feitos do mesmo átomo que a árvore decepada ao lado.

E por falar em decepar, o que dizer das inúmeras proposições normativas tramitando nas Casas Legislativas e no CONAMA, que pretendem “agilizar” o procedimento do Licenciamento Ambiental, suprimindo conquistas e salvaguardas. Significativas alterações sendo conduzidas por mentes políticas viciadas e ultrapassadas, passando a régua na história escrita por bravos lutadores. Mas como ter forças para lutar se diante de nossos olhos está sendo decepado, nada mais, nada menos, do que nosso próprio País?

Irresistível não lembrar de Baumann, para quem somos “indivíduos frágeis”, que conduzimos nossas vidas sobre uma “realidade porosa”, “patinando sobre uma superfície de gelo fino”, todo cuidado é pouco porque essa é a única camada que ainda nos separa da total liquidez”.

Por Dr. Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)

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