O papa Francisco deixa preciosas lições de paz, amor, esperança, alegria, simplicidade, perdão, sonho, fé e outras coisas boas pelas quais vale a pena até morrer. Sua bandeira era a “vida em abundância”, referida por Jesus Cristo. Ou seja, a possibilidade concreta de cada ser humano viver em paz consigo mesmo, com os outros e com a natureza, por desfrutar da verdadeira comunhão com Deus, que consiste na prática da fraternidade e no cuidado com o meio ambiente.
Não foi por acaso a opção pelo nome Francisco. A história de vida desse homem em muito se parece com a de São Francisco de Assis, que também teve como bandeira de luta a defesa do meio ambiente e da fraternidade. E os dois sempre estiveram cobertos de razão. Sem respeito à obra da Criação e ao próximo, jamais o ser humano será feliz. Enquanto o meio ambiente continuar maltratado como hoje, enquanto houver uma só pessoa no mundo passando privação de alimento, moradia, remédio, roupa, ou sofrendo injustiça, ninguém terá “vida em abundância”.
Em seu discurso de posse, Francisco já sentenciava convicto: “sempre que os seres humanos deixam de cuidar do meio ambiente ou uns dos outros, abre-se o caminho para a destruição, e os corações se endurecem. Tragicamente, em cada período da história, há os Herodes que tramam a morte, causam a destruição e estragam o semblante de homens e mulheres”. Na Jornada Mundial da Juventude no Brasil (julho de 2013), adverte: "vemos agora a crise no meio ambiente, mas a vemos, sobretudo, no homem".
Meio ambiente e fraternidade. Eis a pregação do sábio Francisco. Pela vida inteira. E não precisava mais. Esses dois temas globais concentram o que há de mais importante para a vida de todos.
O tema meio ambiente relaciona-se diretamente com: a) práticas concretas de recuperação de danos ambientais já ocorridos; b) redirecionamento das formas de atividades econômicas rumo à sustentabilidade integral; c) respeito à biodiversidade; d) diminuição do consumo; e) respeito ao direito dos animais, assumindo-se nova postura ética, que permita enxergá-los como parceiros de moradia e não mais como meros objetos de consumo; f) respeito às formas de reprodução genética naturais de plantas e animais; g) fim da ética antropocêntrica, que desrespeita as condições naturais dos seres não humanos.
O segundo tema (fraternidade) está ligado: a) à necessidade de uma nova postura ética no sentido de colocar-se no lugar do outro e assim poder sentir os dramas da solidão, da doença, da fome, da dor, da discriminação, da injustiça, do bullying; b) à necessidade urgente de redistribuição mais justa das riquezas de forma a eliminar para sempre a inaceitável situação de miséria de milhões e concentração de quase todo o capital do mundo nas mãos de poucos; c) ao respeito absoluto voluntário (não por obrigação legal) às diferenças de raça, cor, gênero, sexo, cultura, ideologia, nacionalidade e religião, a partir de ações transformativas (que levem todos os gêneros, sexos, cores, raças, culturas, religiões, nacionalidades e ideologias a respeitar o direito de ser, pensar e viver diferente); d) à defesa dos direitos humanos a partir de uma concepção multicultural e não apenas a partir do seu caráter de universalidade, única maneira de se evitar a imposição cultural hegemônica.
Sem dúvida, esses dois temas englobam todos os problemas sociais atuais, cuja solução depende de uma mudança radical da postura ética do homem em relação aos excluídos e à natureza, devendo as pessoas, como ensinou Francisco, passar a praticar a fraternidade (que significa amar o próximo, auxiliando-o em suas necessidades) e cuidar do meio ambiente (única maneira de expressar nosso amor a Deus).
Esse Papa Francisco foi mesmo inspirado e iluminado por Deus! Sigamos seus ensinamentos.
Por Dr. Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)
