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Cristianismo sem Cristo. Por Dr. Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)
Por Rádio JB
Publicado em 16/04/2025 22:00
Opinião

A prisão de Jesus não foi postulada pelo órgão acusador do Estado, muito menos por alguma vítima de eventual crime que tivesse cometido o Mestre, mas pelos próprios líderes religiosos. Os mesmos organizadores da mais importante festa de adoração a Javé, a Páscoa.

         O julgamento é sumário. Com provas falsas, testemunhas mentirosas e sem direito de defesa. Mesmo sem antecedentes, a condenação é à pena capital. Jesus deve morrer pregado numa cruz. Depois de inominável tortura física.

         A emoção toma conta dos líderes religiosos do Judaísmo e de suas seitas (fariseus, saduceus etc.). Para eles, essa é a Páscoa mais importante desde Moisés. Porque Jesus pendurado numa cruz, morto, representa a melhor resposta a quem ousou atacar a tradição político-religiosa. A tradição que privilegia o rico e oprime o pobre. Que classifica as pessoas em castas inferiores e superiores, em pecadoras e santas. A tradição que é capaz de ditar quem é de Deus e quem é do diabo. Pela aparência, apenas.

         Alguém tem dúvida de que Jesus morre apenas por defender a justiça e a verdade?

         E morre nas mãos dos líderes do Judaísmo da época e de suas seitas. Que roubam em nome de Javé. Enganam, mentem, enriquecem e praticam toda sorte de injustiça. Tudo em nome de Deus. A decadência moral desses líderes é tal, que agora já estão aptos a matar. Em nome de Deus.

         É assustador, mas vejo uma semelhança meridiana entre o Judaísmo que matou Jesus e o Cristianismo do Brasil de hoje.

         Claro que no Brasil existem cristãos genuínos. Poucos. Que não aceitam a situação deplorável em que se tornou o Cristianismo moderno. Assim como havia alguns judeus fiéis cumpridores dos Mandamentos. Que defenderam Jesus e choraram sua morte.

         Mas, como instituição, o Cristianismo brasileiro está em frangalhos. Metido até ao pescoço com a injustiça e a mentira. Exatamente como o Judaísmo da época de Jesus.

         E a principal causa dessa decadência do Cristianismo brasileiro é o seu profundo envolvimento com a política. A política que prega o ódio contra quem pensa diferente. Bem como aconteceu com o Judaísmo e suas seitas da época de Jesus, que decidiram ocupar cargos políticos para defender os interesses de sua agremiação religiosa.

         Em troca de privilégios de governos, muitos líderes cristãos vendem os votos e a dignidade dos fiéis, enganando-os em nome de Deus.

         E os argumentos usados por esses líderes são os mais infames e mentirosos. Antigamente, defendiam seus candidatos dizendo que havia risco de fecharem as igrejas. Agora, quando o tal comunismo já não é mais nenhuma ameaça, o argumento é o perigo de extinção da família.

         A propósito, informo que a família jamais será tocada por quem quer que seja, porque ela é um instituto divino. Desde o Éden, ninguém conseguiu destruí-la.

         A família não precisa de defesa política. A igreja que lança candidato a cargo político pela família está enganando o eleitor.

         Informo mais uma coisa. Em todo o Universo, só existe uma instituição capaz de defender a família: a própria família.

         Sim, a família formada a partir do amor. Porque do amor é que nasce o comprometimento, a solidariedade, a fidelidade, a lealdade e o desejo de ver o outro feliz. Essa família não precisa de lei. Essa família pode até participar de igreja, mas não depende dela para nada, pois seu pastor é o próprio Deus, o inventor do amor. Essa família não precisa de ideologias, muito menos de políticos. A família que nasce e vive do amor anda no piloto automático, é autoprogramada para ter fé e sonhar alto, por isso é imune às influências do mal.

         Quem precisa de defesa política são os pobres, desempregados, doentes, idosos, crianças e mulheres vulneráveis, os índios, os negros pobres, os sem teto, os sem terra, os moradores de rua, os drogados e a Obra da Criação (os animais, a água e as florestas). Só que para essa finalidade é difícil encontrar candidato das igrejas ditas cristãs. Porque com essas bandeiras não é possível obter privilégios materiais enganando o eleitor.

         Feliz Páscoa! Aos cristãos de verdade.

Por Dr. Nilton Kasctin Dos Santos (Promotor de Justiça e Professor)

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