Um levantamento do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) mostra que o Bolsa Família tem provocado impacto significativo no mercado de trabalho. O estudo revela que, a cada duas famílias contempladas pelo programa, uma deixa de participar da atividade laboral.
A pesquisa, conduzida pelo economista Daniel Duque, analisou os efeitos após o aumento médio do benefício para cerca de R$ 670 em 2023. Os dados apontam que a taxa de participação entre os beneficiários caiu 11% em relação ao grupo de famílias que não recebe o auxílio. Além disso, as chances de estar ocupado e de ter um emprego formal recuaram 12% e 13%, respectivamente, entre os recém-incluídos.
O efeito é mais visível entre homens jovens, de 14 a 30 anos, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, onde a dependência do programa é maior. Segundo Duque, o receio de perder a renda garantida pesa mais que a possibilidade de salário no mercado formal.
“O temor de abrir mão da segurança pesa mais que a perspectiva de salário”, destacou o economista.
Mesmo com a regra de transição que permite manter parte do benefício por algum tempo após a formalização do emprego, a elevação dos repasses no pós-pandemia ajuda a explicar por que a taxa de participação não retornou ao patamar pré-crise. Em 2019, o índice estava em 63,6%; durante a pandemia, caiu para 57,3%; e, em 2025, permanece em 62,2%.
O estudo da FGV reforça o debate sobre os efeitos colaterais das políticas de transferência de renda no estímulo ao trabalho formal, tema central para o futuro do programa e para a formulação de estratégias de inclusão produtiva no país.